quinta-feira, 26 de julho de 2012

Racionalizando a irracionalidade


Somos seres da palavra. Da razão, da objetividade, das ciências. Somos seres que, acima de tudo, querem estar bem; afinal, quem não quer? E pra isso usamos o que temos de tão especial e tão singular expressividade na natureza: o pensamento lógico.
Somos guiados por ele como cegos e seus cães-guia. Conforme fomos evoluindo, tornou-se claro que agir de maneira irracional era seguir por um caminho tortuoso e incerto e que, para estarmos bem, precisávamos seguir pelo caminho mais seguro, que nos garantisse mais conquistas e realizasse nossos sonhos. Desde então, usamos nossa racionalidade quase como um mantra; "não podemos fazer isso, pois vai acontecer aquilo", "se dissermos isso, vão pensar aquilo" e mais uma série de outros exemplos que todos temos guardados em nosso íntimo e que perpetuam em nossas lembranças.
Ser racional, no final das contas, nos levou a ser a sociedade mecânica em que estamos inseridos hoje, em que os dez passos pra você ser um profissional de sucesso ou as cinco regras para se ter aquela barriga chapada estão estampadas nas capas das revistas, dos blogs e do jornal que você ganha no farol. Aquela dose de suspense, o friozinho na barriga e o mistério por não saber o que pode acontecer ficam guardados só para os filmes de terror que eventualmente a gente assiste pra dar aquela relaxada e fazer nosso cérebro, bitolado em querer tudo claro e estrategicamente bem definido, entrar em equilíbrio com a irracionalidade que flui pelo nosso sangue.
Por vezes a vemos quase como um crime; "não acredito que fiz isso sem pensar", "caramba, por que eu não pensei melhor nisso antes?" e, quando algo positivamente inesperado acontece a partir dela, achamos estranho, como se fosse uma benção ou algo do tipo.
É engraçado perceber (racionalmente, claro) que a irracionalidade pode ser boa e que, no fundo, podemos - e deveríamos - deixar a vida muito mais interessante e leve com ela. Sem joguinhos em relacionamentos, sem métodos mirabolantes pra se ter uma ideia genial, sem um programa de treinos determinado na academia. Ao invés de jogar a vida, deveríamos vivê-la porque, afinal, ela é uma só.

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