quinta-feira, 21 de julho de 2011

O si como mercadoria

Eu havia comentado em meu primeiro post o papel das redes sociais na transformação das conexões humanas, mas sem considerar que esse é apenas um dos inúmeros tijolinhos que compõem a nossa casa fluida. 
Um outro fator preponderante e em grande destaque nos meios de mídia é o desenvolvimento de smartphones cada vez mais inteligentes, que só faltam falar por si mesmos. Eles condicionam o individualismo pós-moderno ao evitar cada vez mais o contato real entre as pessoas, "treinando os olhos a olhar sem ver"¹.
De fato, vemos em cafés, restaurantes e toda espécie de não-lugar os indivíduos enfurnados em seus celulares, pressionando avidamente as teclas para mandar uma mensagem, uma foto, um vídeo, falando com os amigos e familiares ou entretendo-se em milhões de aplicativos ao mesmo tempo que, do outro lado da mesa, seus companheiros realizam exatamente as mesmas atividades. As conexões acabam, assim, por se tornar o manto de Richard Baxter: pronto a ser despido a qualquer instante. 
O grande paradoxo pós-moderno é que somos tentados a, de minuto em minuto, checarmos todo tipo de rede social em que estamos inseridos buscando alguém que precise de nós, ao mesmo tempo que mantemos uma distância segura de um contato real. Vivemos cada vez mais na sociedade de representação proposta por Debord.
Nos tornamos, portanto, consumidores permanentemente insatisfeitos. Em nosso chat no Facebook podem ter cem pessoas online, mas falamos apenas com duas ou três. Temos medo de nos envolver e, com isso, nos tornarmos dependentes. Mas queremos sempre mais. Parece que o medo cósmico de Mikhail Bakhtin ampliou-se em um medo terreno.
Ficamos com receio de conhecer a fundo novas pessoas, pois isso requer tempo e dedicação de ambos os lados. O que acontece nesse sentido é que as relações se tornam supérfluas e efêmeras. Não sabemos as grandes conquistas ou piores temores de todos os nossos amigos, mas sabemos se eles irão sair conosco na próxima sexta-feira. Se vão na estreia daquele filme que todos os críticos estão comentando. Na final do jogo de futebol do seu time. Na nova balada que acabou de abrir. 
E assim os anos vão se passando e, mais do que isso, a nossa vida, tendo deixado de ser pessoas para nos tornamos mercadorias

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